28 de abr. de 2012

desculpa moço.


Moço abre a porta,tá fazendo frio aqui fora.Começou a serenar há um tempinho e queria saber se tem lugar pra mim aí dentro.Os pingos de chuva se multiplicaram,e a moça depois de muito insistir resolveu ficar encolhidinha perto da porta.O ambiente gélido fazia os lábios tremerem levemente.Pensou em chorar e camuflar as lágrimas nas gotas que se aglomeravam em seu rosto.Mas percebeu que o melhor a fazer era descongelar os icebergues que cresciam em seu coração.Tudo estava tão frio dentro dela,e havia de ter uma saída para aquele tormento.Pensou silenciosa enquanto se acochava no minúsculo alpendre que a protegia da chuva torrente.Estava frio,e o vento desesperado soprava água em seu vestidinho branco,costurado pela avó numa tarde de sol florido.Tirou papel e caneta da bolsa que trazia consigo.E começou a escrever o sincero motivo que a trouxera aquela casinha discreta.Com lágrimas a tecer as palavras ela deu início as primeiras sílabas que compuseram sua canção de amor singelo.A melodia que as letras cantaram em forma de poesia,para derreter o gelo que petrificava seu nocivo coração.

No alpendre da sua casa,em um dia de abril de 2012.
Caro moço da casinha branca.
bati na sua porta hoje buscando abrigo.A chuva não mandou aviso e logo hoje esqueci o guarda chuva.Pensei que podia ter uma lareira quentinha ou um cobertor de lã pra me emprestar,tá frio sabe.Ou quem sabe um chocolate quente pra espantar o arrepio.Mas ninguém veio,talvez você tenha ido colher flores pra enfeitar seu vaso favorito.Ou tomar banho no riacho já que hoje é sábado.Sabe moço,não foi culpa da chuva eu vir parar aqui.Eu bem sei dos meus por ques,mas você nem imagina o motivo desta carta chuvosa.Faz tempo que reparo na cor das suas pupilas,e como seus olhos piscam devagar quando está pensativo.Recordo vivamente da primeira vez que te vi enquanto corria no campo,você estava colhendo alguns lírios e nem percebeu a minha presença.Mas eu vi viu,vi como você sorria ao sentir o vento passar pelos seus cabelos dourados.E teve aquela vez que você estava banhando-se no rio.Era como ver o banho dos pássaros,parecia que a água não tocava sua pele.Você nadava e sacudia a água enquanto eu te olhava de longe,tentando ver seu sorriso sob a luz do sol que esquentava aquele veranico.É moço eu me encantei pelo seu canto,pelo seu sorriso franco,pela maneira bonita de correr no mato.Fiz alguns poemas,mas acho que você iria rir deles,são tão bobinhos.Mas rapaz,eu notei uma lágrima quase adormecida no canto do seu olho.Era quinta feira,e talvez fosse um cisco,mas eu sei que você estava triste naquele dia.Eu queria sentir o gostinho daquela lágrima,mas ela tímida não quis se derramar.Queria segurar na sua mão ontem.É que vi alguns casais andarem juntinhos na quermesse que chegou na cidade ontem a noite.E pensei que seria bom ter uma mão para me sustentar de vez em quando.Meus pés estão meio cansados sabe?bem que você podia me segurar no colo quando eu cansasse de caminhar.Você pode estar pensando que sou uma menina boba em escrever essas coisinhas,mas é que queria te dizer isso faz tempo.Na verdade há muito tempo.Desde de que nos conhecemos naquela tarde afável de domingo.Seu jeito simples de dizer olá,e minha cara vermelha ao sorrir envergonhada pra você.Sabe o que eu queria mesmo?que as moças pudessem pedir os rapazes em namoro.É uma tolice,mas é que cansa esperar sempre sua iniciativa.Porque você não diz nada,parece mudo,mas o pior é saber que você não fala nada porque não quer.Moço,desculpa estar desabafando.Mas é que eu queria tanto que você fosse meu namorado.Que recolhesse violetas e deixasse na minha janela.Que desenhasse uma borboleta e desse a ela o meu nome.Como seria bom escutar sua voz cedinho me acordando todo dia,e comer na sua companhia,sonhar junto na mesma sintonia.Mas a chuva acabou e estou com a mão dormente.Está frio,se lembra?Pois bem,vou deixar esta carta na sua caixinha do correio,quando terminar de ler por favor não jogue fora.Deixe-a pertinho do fogo.Tadinha,está tão úmida.Cuidado com ela,talvez seja a única coisa minha que você terá.Esqueci de dizer que amanhã estarei partindo.Já comprei as passagens e tudo.Queria ficar mas viver tão perto de você e não poder te ter está insuportável.Desculpa moço,desculpa por ser tão encantador ao ponto de me fazer te amar.

Serenamente,sua melhor amiga mocinha.

A moça dobrou a carta e pôs no correio.Deu dois beijinhos de despedida e olhou para o presente que amanhã se tornaria um dolorido passado.Pelo menos tentei,ela balbuciou enquanto caminhava de costas tentando eternizar cada centímetro daquela casinha albina.Os pés não doíam,mas ainda queria um colo e um namorado pra esquentar seu corpo daquele frio de sábado.


Espero que gostem queridos'')


              Um dócil clipe pra fazer desse texto mais doce!
            

3 comentários:

Anônimo disse...

Conheci teu blog hoje, avaliando a Edição Suas Palavras.
Foi incrível, me envolvi na história e na ternura desse amor. Estou se seguindo, sua escrita é excelente.

http://iasmincruz.blogspot.com.br/

Desa disse...

Eu tinha que comentar prima rs *-* sabe como eu amei cada palavra, tudo tudo..e quero continuação, essa história precisa de um final.

Anônimo disse...

Tammy, terminei de ler o Desculpa moço - cap3 'só agora percebi o 1 e 2. Simplesmente espetacular sua postagem. Sua escrita é singela. Muito linda.
Beijos
Manoel